segunda-feira, 8 de março de 2010

Sacolas plásticas: podemos viver sem elas?


Senac e Educação Ambiental 29 Ano 18 • n.2 • julho/dezembro de 2009
Sai de casa e vai ao comércio, em cada loja
que entra para comprar um produto
ganha uma sacolinha. Vai à farmácia,
ganha a sacola. Vai no supermercado,
ganha outra. Quando vê, volta pra
casa com aquele monte de sacolas.
É um desperdício.”
logia, pois nem mesmo no Canadá e
na Inglaterra, onde foi desenvolvida,
sua produção foi liberada.
O professor do Programa de Engenharia
Química da Coppe/UFRJ, José
Carlos Pinto, afirma que essas sacolas
são uma solução ambientalmente
incorreta: “Elas se transformam em
pó e obviamente poluem o solo e a
água. Além disso, para fazer essa
transformação, utilizam-se catalisadores
à base de metais pesados
como titânio e chumbo, que vão
poluir mais ainda e poderão voltar
ao corpo humano através de carnes
e vegetais contaminados, o que é um
absurdo”. Para o químico, a solução
para as sacolas plásticas está na reciclagem
e no reúso.
Fernanda Daltro concorda. Além da
reciclagem, a redução do consumo
e o descarte adequado são os principais
focos de atenção das políticas
públicas. “Não temos, por exemplo,
a coleta seletiva estruturada no
país. Apenas 10% dos municípios
possuem coleta seletiva. Precisamos
implementar uma estrutura pública
que permita uma coleta de resíduos
sólidos adequada, para que as pessoas
deixem de desperdiçar”.
Menos seria demais!
Não é o caso do Rio de Janeiro, que
saiu na frente e se tornou o primeiro
estado brasileiro a criar uma lei
que obriga os estabelecimentos
comerciais a substituírem, ao longo
dos próximos três anos, as sacolas
plásticas por sacolas retornáveis. A
lei fluminense determina ainda que o
cliente poderá trocar 50 sacos por um
quilo de alimento ou ganhar um desconto
de R$ 0,03 a cada cinco itens
levados fora de sacos plásticos.
Para o presidente do Conselho Empresarial
de Meio Ambiente da Associação
Comercial do Rio de Janeiro,
Haroldo Mattos de Lemos, essa lei
ainda precisa de ajustes. “Ao invés de
proibir as sacolas plásticas, por que
não se estimula o seu reúso, como
acontece na Europa? Lá, o cliente usa
uma sacola plástica mais resistente
e, quando volta ao mercado, ele a
leva, pois senão vai pagar por uma
nova sacola”.
Essa alternativa esbarra numa questão
chave: a má qualidade das sacolas
plásticas brasileiras. Segundo
a Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT), existe uma norma
O mundoX sacolas plásticas
Os Estados Unidos são os campeões
no consumo de sacolas
plásticas no mundo: 100 bilhões
ao ano. Para fabricá-las,
anualmente são necessários 12
milhões de barris de petróleo.
Mas São Francisco, na Califórnia,
se tornou a primeira cidade
norte-americana a proibir o uso
de sacolas plásticas em 2007, e
outras cidades como Filadélfia,
Boston e Seattle estão seguindo
o mesmo caminho.
No início de 2008, a China proibiu
a distribuição gratuita de sacos
plásticos no comércio. Em Bangladesh,
na Austrália e na cidade
do México aconteceu o mesmo.
Na Itália, elas serão proibidas
a partir de 2010. Na Alemanha,
na Dinamarca, na África do Sul
e na Irlanda, é preciso comprar
sacolas plásticas nas lojas. Parte
desse dinheiro é investido em
gestão do lixo nas cidades.
Em Zanzibar, um conjunto de
ilhas na África, o governo foi
mais radical. Como o turismo ali
é a principal atividade econômica
e as sacolas plásticas estavam
afetando a vida marinha, quem
for pego usando sacola plástica
vai preso por seis meses ou paga
dois mil dólares de multa.
Saco é um saco
Seguindo a tendência mundial de
combate ao excesso de consumo
de sacolas plásticas, o
Ministério de Meio Ambiente lançou,
em junho, a campanha Saco é um
saco, que visa despertar a atenção
da população para a questão e provocar
uma mudança de hábitos que
culmine numa redução de resíduos
sólidos. “A campanha está tendo um
retorno muito positivo. A Wal-Mart,
uma grande empresa de varejo,
aderiu primeiro, mas agora a lista
está enorme, com a adesão de outras
grandes empresas como o Carrefour
e a Kimberly Clark. E a tendência
é que essas parcerias aumentem”,
explica Fernanda Daltro.
Ela conta que já existem diversas
prefeituras e governos estaduais procurando
o Ministério: “Somos uma
referência, e estamos defendendo
um bem muito maior, que é a natureza.
Nós temos de estimular o debate
na sociedade e ir trabalhando em
diversas frentes, seja governamental,
empresarial ou social”.
Uma das ações governamentais
que vem se popularizando no país
no combate às sacolas plásticas é a
substituição delas pelas chamadas
sacolas “oxibiodegradáveis”. Três
estados já adotaram sacolas desse
material: Goiás, Espírito Santo e Maranhão,
além de alguns municípios,
como Sorocaba e Guarulhos (SP).
Outros, como São Paulo, vetaram
projetos de lei que propunham a
troca. Tudo por conta das dúvidas a
respeito da sua degradação. Apesar
de os fabricantes garantirem que elas
desaparecem no meio ambiente em
até 18 meses, o Ministério de Meio
Ambiente não apoia essa nova tecnofoto:
Ricardo Funari\BrazilPhotos
Ano 18 • n.2 • julho/dezembro de 2009 30 Senac e Educação Ambiental
Os 4Rs das sacolas
plásticas
RECUSAR – Sempre que puder,
recuse a sacola plástica e ajude a
diminuir a demanda por recursos
não-renováveis.
REDUZIR – Pense se você realmente
precisa de tantas sacolas
plásticas armazenadas em casa.
Diminua a quantidade guardada,
mas não jogue fora, vá armazenando
menos e racionalize seu uso.
REUTILIZAR – É usar de novo, dar
outra finalidade. Use como saco
de lixo, sacola de novas compras,
embalagem etc.
RECICLAR – É transformar materiais
para a produção de matériaprima
para outros produtos por
meio de processos industriais ou
artesanais. As sacolas plásticas
também são recicláveis. Até as
que se rasgam devem ser encaminhadas
para a reciclagem, como
o plástico da garrafa PET. Nunca
jogue fora no lixo comum.
estabelecida
para esse produto, que deve ter uma
espessura adequada para agüentar
até seis quilos. Mas a realidade é bem
diferente. A qualidade das sacolas de
supermercado é tão ruim que obriga
o cliente a usar duas e até três sacolas
de uma vez para carregar os produtos.
“Infelizmente, não existe legislação
para regulamentar isso. A norma da
ABNT é apenas uma norma, que o
fabricante respeita se quiser. O lojista
deveria cobrar mais qualidade, mas
isso é delicado, pois mexe com custo.”
Mattos argumenta que caberia ao
próprio cliente cobrar pela qualidade
das sacolas plásticas: “Só assim o
dono do mercado poderia exigir do
fornecedor uma sacola mais resistente,
o que poderia reduzir o número de
sacolas em circulação”.
Ele afirma que os donos de supermercados
e outros lojistas estão
acompanhando a aplicação da lei
com preocupação, e defende que
a proposta de troca de sacolas por
alimentos deveria ser revista, já
que não há uma contrapartida do
governo. “O objetivo principal da lei
não é reduzir o consumo de sacolas,
mas proteger o meio ambiente, e por
esse objetivo estamos todos juntos
lutando. Por isso, precisamos ajudar
os legisladores a aperfeiçoar a lei, à
medida que as dificuldades forem
surgindo”, destaca.
Outro problema é a adesão da população:
cerca de 80% das pessoas
vão ao mercado a pé ou de ônibus e a
sacola plástica facilita muito o transporte
das compras. Fabíola dos Santos
é um bom exemplo. A estudante
de Direito de 22 anos assume que
teria preguiça de levar uma sacola
retornável de casa cada vez que fosse
à rua fazer compras. “Acho a lei superválida,
mas muito difícil de pegar.
Carioca é meio folgado, sempre vai
querer dar um jeitinho, ainda mais se
tiver de pagar pela sacola retornável,
vai sempre preferir o caminho mais
fácil”. Mas confessa: “Hoje eu penso
assim, mas, no futuro, quem sabe, se
todo mundo aderir, eu até poderia me
esforçar, comprar uma sacola retornável
e mudar meus hábitos”.
Já Pedro Nascimento Peixoto, de 76
anos, é o oposto. Este autodenominado
“jovem advogado aposentado”
é um entusiasta da ideia de
substituir sacolas plásticas pelas
retornáveis: “Eu sou do tempo em
que se fazia mercado com sacola de
algodão e não tinha nenhum problema.
Assino embaixo e vou aderir à
lei, sim. Quero um mundo melhor
para minha neta. Lá em casa sou eu
quem faço as compras e evito levar
tantos sacos. Vou começar a estimular
os amigos a fazer o mesmo. As
pessoas precisam se conscientizar
de que usam sacolas plásticas demais!”
Carioca da gema, o dr. Pedro
lamenta as praias poluídas. “O mar
é o mais prejudicado. Tanto plástico
só serve pra poluir o meio ambiente”,
sentencia.
Mudando hábitos e
mentes
O entusiasmo do dr. Pedro parece ter
acompanhado os adeptos da campanha
Saco é um saco. Segundo dados
do Ministério do Meio Ambiente, a
Wal-Mart, por exemplo, registrou, só
nos meses de julho e agosto de 2009,
uma redução no consumo de quatro
milhões de sacolas plásticas em suas
lojas. A adesão à campanha faz parte
de um conjunto de ações que vêm
sendo adotadas desde o final de
2008 e que fazem parte do projeto
Sustentabilidade: “Já vendemos
mais de 2 milhões de sacolas retornáveis
e já evitamos o consumo total
de 9,1 milhões de sacolas plásticas
oferecendo descontos para quem
deixa de usá-las. Acreditamos que a
empresa tem um papel importante na
reeducação de hábitos de consumo”,
afirma Cristina Cassis, responsável
pelas relações com a imprensa da
Wal-Mart.
Fernanda Daltro, do Ministério de
Meio Ambiente, acredita que é pela
educação que se muda esse quadro:
“A lei das sacolas no Estado do Rio
deve ser acompanhada de uma campanha
educativa, para conscientizar
as pessoas da importância, para a
vida delas, de se diminuir o uso das
sacolas plásticas.”
Em Belo Horizonte, por exemplo,
onde desde fevereiro deste ano as
sacolas plásticas começaram a ser
abolidas dos supermercados, na prática,
nada parece ter mudado. Célia
Franco, bancária aposentada de 63
anos, costuma usar uma sacola retornável
por hábito, mas não percebeu
mudanças grandes nos mercados e
lojas que frequenta: “O que eu notei
é que, antes, as sacolas plásticas
ficavam à disposição de quem quisesse
pegar aos montes. Hoje, elas
ficam em caixinhas como de lenço de
papel, e só dá para tirar uma por uma.
E as sacolas retornáveis estão mais à
vista”. Outra coisa que a aposentada
reparou é que nos mercados mineiros
existe o hábito de deixar caixas
de papelão à disposição dos clientes
para guardarem as compras. “Isso
facilita a vida de quem usa carro para
fazer mercado”, afirma ela.
Fernanda Daltro destaca que essa é
uma boa alternativa às sacolas plásticas:
“Deixar engradados no portamalas
ou sacolas retornáveis dentro
do carro também ajuda na hora das
compras. É preciso usar a imaginação
e ter força de vontade para poupar a
natureza”.
Para saber mais:
Campanha Saco é um saco
http://blog.mma.gov.br/sacolasplasticas/
foto: Divulgação-MMA
O ministro Minc no lançamento da
campanha "Saco é um saco"
Senac e Educação Ambiental 31

Monica Maria